Nosso Bruno estava previsto para chegar no dia 19/10/2017, mas algo dentro de mim dizia que ele viria antes. Sabia que, por ser meu primeiro parto, o processo poderia ser bem lento, e que eu poderia começar a sentir os pródromos dias antes. Sabia também que dias antes o tampão poderia sair. Eu estava tranquila fazendo minhas aulas de ioga e usando o epi-no (aparelho alemão que minha doula indica usar após 34 sem).
Sintomas zero de que ele viria antes da data prevista.
Para não dizer que não senti nada, lá pelo dia 10/10 percebi um muco mais espesso e uma cólica muito leve. Fui dar uma olhada no google imagens e concluí que já havia perdido o tampão há alguns dias, rsrs!
Fiquei tranquila e comecei a conversar com nosso bebê: “filho, não pode passar da data, você tem que ser libriano, hahaha. Filho, amanhã é dia de Nossa Senhora Aparecida, seria tão lindose você viesse nesse dia”...chegou dia 12/10 e nada do menino dar sinal. Fui dar uma caminhada na praia para ver se ele se agilizava.
Dormi super bem durante a noite e umas 6h da manhã senti uma leve cólica, igual a menstrual. Fui ao banheiro e percebi que estava perdendo um pouquinho de sangue. Pensei que não era nada, tudo muito tranquilo, então fui tomar banho, café da manhã e voltar pra cama.
Às 8h30 senti vontade de ir ao banheiro e, quando me levantei da cama, veio outra cólica e escorreu um pouco de líquido no chão. Eu jurava que quando a bolsa rompesse seria uma enxurrada, até forrei o colchão com plástico. Mesmo não tendo sido assim, meu marido acordou e eu disse que a bolsa havia rompido. Nestor nem perguntou nada, deu um baita pulo da cama e foi pegar as malas da maternidade, rsrs.
Escrevi para a Dri que me orientou a mandar uma mensagem para a Dra. Izilda. Fui orientada a ir para a clínica ser examinada. Dri iria me encontrar lá. No caminho, eu e Nestor ficamos tentando controlar o intervalo entre as contrações, mas eram tão fracas e tão irregulares que desisti.
No exame de toque a Dra Izilda disse que eu não tinha nada de dilatação, mas pediu que eu fosse fazer um cardiotoco no hospital e depois voltar para casa, que talvez o bebê nascesse na madrugada. Já me veio à cabeça a idéia de um dia todo de sofrimento em casa e uma madrugada terrível.
Eu, Nestor e Dri fomos para o hospital. Ficamos de papo na recepção e a Dri me passou uma receita de shake laxante para eu tomar em casa antes do parto. As contrações estavam leves, mas bem presentes. Começou o tal cardiotoco. Parece que foi só eu sentar na maca para as contrações começarem de verdade. Eu sentia dor e sentia que estavam próximas, mas como estava sem dilatação, pensei que não era nada demais.
Durante o exame a coisa começou a avançar. A dor era intensa e eu não aguentava ficar mais naquela posição.
Finalmente o exame acabou e me disseram que eu seria avaliada por um médico. Entrei no consultório e fui com a Dri para o banheiro, não parava de escorrer líquido pelas pernas, e eu já não sabia se era a bolsa ou se estava fazendo xixi!
Deitei para fazer o exame de toque e lembro bem da cara de espanto do médico dizendo: já está com 5 cm de dilatação, tem que internar! Gente, como assim? Saí da Izilda às 9h40 sem dilatação, e uma hora depois estava com 5 cm?? Alguém tá medindo errado!
O médico ligou para a Izilda ir para o hospital, e meu marido foi tratar da internação. A Dri ficou comigo, e me lembro de só conseguir me apoiar na parede quando as contrações vinham.Nem pensar em ficar em outra posição.
Finalmente fomos para a sala de parto adequado. Que eu me lembre já eram 11h da manhã. Fui para o chuveiro, sentada na bola. Olha, vou dizer uma coisa: água quente é vida! As dores ficaram bem mais suportáveis. Perguntaram se eu queria ir para a banheira...bom, lógico que sim! Rs
Vou confessar uma coisa: enquanto enchiam a banheira e eu passava pelas contrações, tive dois pensamentos que me fazem rir agora. Primeiro deles: onde eu tava com a cabeça, por que não pedi cesárea? Ainda: ah, Bruno não vai ter irmãos! Hahaha, essa foi minha hora da covardia, mas não falei para ninguém, nem pedi anestesia, agora aguenta!
Fui para a banheira que era pequena para mim, mas só de ficar com a barriga imersa na água quente já estava super satisfeita. Não queria sair dali de jeito nenhum, imaginei que ele nasceria na água. Pouco tempo depois a Dra pediu para fazer um toque: 10 cm, dilatação total! Nessa hora olhei para o relógio, não eram nem 14h ainda. A Dri comentou: essa é mulher tsunami! Só sei que fui de zero dilatação para 10 em 4 horas. Para um primeiro parto, é muito rápido. Bom, faltava pouco!
Izilda pegou o espelho e me mostrou dizendo: a cabecinha dele está aqui, olha, coloca a mão! Oi? A cabeça dele está aí embaixo? Mas eu não senti ele descendo, nada! Pois é, a gente lê, lê e lê, mas a prática é bem diferente da teoria.
A partir deste momento a situação tomou um rumo que eu não esperava: o menino não descia. Tava ali, na boca do gol, e não vinha. Eu estava bem na banheira, cozinhando já, mas estava ótimo o calorzinho. A sala estava escurinha, nossa playlisttocando, a Dri e o Nestor colocando compressa fria na minha testa, me oferecendo comida e bebida, mas eu só conseguia tomar água gelada, e aos poucos. Levei uma marmita imensa e ficou intocada, rs. Realmente, as contrações vêm em ondas e dá para descansar entre elas. Num destes intervalos pedi desculpas à equipe, estavam todos morrendo de calor por minha causa. Eu sentia frio e não queria sair da banheira nunca mais.
Acontece que o tempo tava passando e o Bruno estancou. A Dra pediu para que eu tentasse outras posições. Disse para eu ficar de cócoras, mas nem tentei, só de pensar doía. Fui então para a cadeira de parto. A Dri me instruiu a fazer força trancando a respiração (eu estava fazendo como aprendi nas aulas de ioga, soltando o ar aos poucos). Disseram que não, faz muita força trancando o ar. Ok, vamos lá, quero que acabe logo. Puxei aquela cadeira até meus dedos doerem e nada...
Bom, próxima tentativa, ficar em quatro apoios. Eu não queria, sabia instintivamente que não iria dar certo, mas segui a sugestão... por que? Só de tentar ficar na posição senti uma dor horrível no pé da barriga e na lombar. Então, tenta de lado, segurando uma perna. A cabeça do Bruno vinha e voltava, vinha e voltava...
Nessa hora Izilda pediu para eu ir para a cama. Pensei: putz, na cama? Era tudo o que eu não queria, vai ser mais difícil, etc. Mas vi que não seria deitada. Colocaram um arco para eu puxar, bem na beirada da cama, sentada.
Me agarrei com tudo naquele arco e, a cada contração, me projetava para a frente com toda a força. Nestor ficou atrás de mim empurrando a minha lombar. Comecei a perceber que a Dra estava sem saber porque ele não descia, e isso me preocupou. Não sabia se iriam me cortar ou tentar qualquer outra intervenção.
Nessa hora o cansaço começou a bater. Eu estava exausta de tanto fazer força, pensei que iria estourar uma veia na minha testa! Será que não tem como puxar? Por que ele não desce? Sim, veio o desespero.
Escutava a Izilda me orientando: faz força, agora, força, força, força! E nada. Me mostravam a cabeça dele no espelho para ver como estava perto. Não sei se teve uma coisa a ver com a outra, mas vi que a Dra colocou as luvas e uma técnica trouxe em silêncio um carrinho de instrumentos para perto. Eu sabia que não tinha mais forças, estava com vontade deitar. Mas naquela hora, me joguei para cima do arco e empurrei todo o meu quadril para a frente, quase caindo da cama. Izilda falou: isso, assim!!
Nessa hora eu senti que a cabeça dele tinha saído. Foi um alívio tão grande que nem esperei a outra contração, fiz outra baita força e o corpinho saiu. Só nessa hora senti uma leve ardência, muito sutil. Minha primeira pergunta: lacerou? rsrs. A Dra disse: não, só uma coisinha bem pequena na pele. Olhei no relógio, faltavam 5 minutos para as 16h. Sim, foram 2h de expulsivo, depois de uma fase ativa tão rápida.
O cordão parou de bater rápido, Nestor cortou e ficamos ali, nós 3 juntinhos. Ele só saiu do meu colo muito rapidamente para os primeiros exames, feitos na sala de parto, do meu lado. Ficamos umas 2 horas sozinhos, lambendo nossa cria. Fui tomar um banho e estava me sentindo super bem. Uma técnica quis me segurar no banho, e só pensei: pra quê? Tô ótima!
Saímos levando o carrinho com nosso bebê para o quarto, caminhando, e as enfermeiras me olharam e disseram: foi você que acabou de ganhar bebê? Estufei o peito toda feliz: sim!
Que orgulho, consegui, nós conseguimos, eu não queria nem deitar, nem comer, estava totalmente recuperada e alerta.
Realmente, a natureza é perfeita... não ficam memórias da dor, só do cansaço e da alegria de ter conseguido. Pode parecer loucura, mas dá vontade de fazer tudo de novo!
Como disse no começo do relato, nosso parto não foi como eu havia imaginado, mas foi único, especial, cercado de muito respeito, de carinho e de amor. Foi a experiência mais louca e incrível da minha vida. É transformador, é um resgate do nosso eu mais selvagem, mais primitivo. É muito difícil explicar em palavras, aliás, é impossível. Acho que até agora não caiu aficha...
Bom, finalizo meu relato com eterna gratidão a todos que estiveram comigo no dia mais feliz da minha vida: meu maridão incrível, Nestor, que ficou incansável do meu lado, querendo me massagear o tempo todo, mesmo quando eu não queria, rsrs. Minhas apoiadoras Dri e Izilda, que me passaram muita confiança, eu estava segura que estava em boas mãos, por isso me entreguei totalmente. Vocês são demais!
Desejo do fundo do meu coração que um dia nosso país passe por uma revolução, onde as mulheres sejam respeitadas no seu parto, que saibam que são as protagonistas do nascimento, que ninguém tem o direito de se apropriar de seus corpos e de seu momento. Que saibam que nós nascemos sabendo parir, podem ter certeza disso!