Relato de parto - Tamara + Paulinho = Arthur
Tamara + Paulinho = Arthur (10-10-12)
Não posso dizer que foi como eu sempre sonhei porque, apesar de todos os contratempos e imprevistos, foi muito melhor do que eu podia imaginar. A chegada do meu Arthur, tão desejada e ansiada, foi agraciada com a participação de pessoas muito especiais que Deus, sempre Ele, colocou no meu caminho e me ajudaram a driblar cada obstáculo.
Quando esse sonho começou a se realizar, em fevereiro desse ano, com o resultado positivo de um exame de sangue, já senti que era o início da alegria maior. Fui abençoada com uma gravidez tranquila, sem enjoos, sem complicações. Pude trabalhar, viajar, cuidar dos preparativos para a chegada do bebe. Confesso que a maior parte da gestação pensei que o nascimento seria da melhor maneira possível no momento, fosse cesárea ou normal, sem me preocupar muito com isso. Foi então que aos 7 meses de gravidez conheci uma pessoa muito especial, Adriana Vieira, e me interessei em fazer as aulas de yoga para gestante. Até comentei que já era tarde demais, mas ela insistiu que valia a pena. Realmente valeu, porque essas aulas me ajudaram a relaxar e me preparar muito melhor para o grande momento.
Paralelo a isso, comecei e me aprofundar em assuntos sobre parto e passei a ter maior convicção de que valeria a pena tentar um parto normal. Aparentemente, por não haver impedimentos, minha médica apoiava. Eu so não imaginava de que se tratava de mais um caso, como muitos outros, em que os médicos falam isso por falar, e no momento final, há um leque de argumentos forçados a serem escolhidos para convencer a gestante de que a cesárea é a melhor opção de nascimento para seu bebe. E acho que essa opção é perfeita para a mãe que deseja isso, aceita e se prepara para tal. Mas nenhum ser humano é igual, e nossos anseios são distintos, assim como nossa percepção de dor, realização e alegria. Por isso aquelas mães que enxergam o parto normal como a forma mais natural e benéfica para elas e seus bebes, também devem ser apoiadas e amparadas, e faço questão de afirmar, levando-se em consideração sempre o bem estar de ambos, sem riscos mas também sem mentiras ou meias verdades. Para reafirmar meu desejo, tive a graça de entrar em trabalho de parto no momento certo, e tive tempo de “resistir” à pressão pela cesárea marcada com horário exato.
Eu não tive o apoio da médica que acompanhou meu pre natal, infelizmente porque não pude enxergar desde o começo essa realidade. E não é dela que quero falar, mas sim das pessoas que sempre estiveram comigo e as que apareceram no meu caminho para que esse parto tenha se realizado. O apoio da minha melhor amiga, conselheira, companheira, minha força maior que é a minha MÃE foi primordial para que eu fosse firme até o final em minhas convicções. Meu pai e toda a minha família também estavam ao meu lado, me apoiando na decisão e torcendo a cada minuto das 10 horas de trabalho de parto e dos dias que antecederam.
Agora vou falar da pessoa que mais me surpreendeu em todo esse processo. Durante toda a gravidez tive seu apoio, atenção e participação, mas confesso que nunca me era suficiente ouvir: “ah, o que vc escolher ta certo, eu apoio” e morri de raiva todas as vezes que surgiram imprevistos que o impediram de participar das aulas, dos preparativos. Eu sempre achei que aquele apoio era da boca para fora, mas nos dias que antecederam o parto e no próprio, tive um companheiro, incentivador e descobri ali que nascia um pai maravilhoso, disposto a enfrentar tudo e todos, mantendo a alegria e descontração que lhe são tão característicos. E mais uma vez eu percebi que Deus é tão maravilhoso que apesar de já termos passado momentos muito difíceis, superamos tudo e juntos construímos essa família maravilhosa. So posso agradecer ao meu marido, amigo e companheiro Paulo Rogerio de Carvalho, por estar ao meu lado em cada dia dos últimos 10 anos e especialmente no dia mais feliz da minha vida: 10/10/12.
Comecei a sentir as contrações mais fortes acompanhadas de cólicas na madrugada de domingo para segunda, mudança da lua cheia para minguante. Na segunda, fui à medica já na esperança de ser o início do trabalho de parto e na expectativa de que ela levaria numa boa que eu tivesse um parto normal, mesmo tendo ela já se preparado para que eu fizesse uma cesárea no final da tarde. A constatação foi de que já havia 1 cm de dilatação e após uma conversa em que minha mãe, Paulinho e eu deixamos claro para ela a vontade do parto normal , voltei para casa para esperar a evolução do processo. As contrações continuaram mas na terça voltei e não havia evolução. A médica então disse que se continuasse assim, no dia seguinte, quarta feira, data em que completava 40 semanas, ela recomendava a cesárea. Eu devia me internar às 7h, ser examinada pelo plantonista e se houvesse aumento da dilatação, ela faria o parto normal, sem problemas. Caso não, já haveria um horário marcado para cesárea às 10h, mas como ela mesma disse “so para garantir”. Na hora aceitei a condição, mas sai daquele consultório desolada. Tinha medo de colocar a vida do meu bebê em risco, mas também não queria abrir mão de esperar o momento certo para que ele viesse ao mundo da forma mais natural possível. Minha mãe e meu marido não acreditaram que eu havia aceitado isso. Depois de uma conversa na aula de yoga e com o apoio deles, ficou certo que eu so iria me internar para a cesárea se eu quisesse. Durante a noite, so pedi a Deus que acontecesse o melhor para nós 2, que Ele iluminasse o caminho que eu deveria seguir. Fiz vários exercícios, tomei chá de canela com gengibre, tudo que minha querida Adriana Vieira me ensinou. Nem consegui dormir a noite porque as cólicas aumentaram bastante e por volta de 4h, fui ao banheiro e havia sangue. Procurei nos livros e nenhum falava sobre sangramento tão forte no trabalho de parto, igual à menstruação. Foi ai que fiquei preocupada, acordei meu marido, liguei para a Dri e fomos para o hospital. Ao ser examinada às 6h por um jovem médico simpático e atencioso, estava com 4cm de dilatação e apresentava todas as condições para um parto normal. O sangramento era o colo afinando, o líquido estava claro e os batimentos cardíacos do bebe em conformidade. Tivemos carta branca do médico para, internada, realizar todos os exercícios com o acompanhamento da doula. (Um momento único: enquanto se organizava a parte burocrática da internação, Adriana e eu fomos tomar café da manhã na padaria com muita descontração e ninguém por perto poderia imaginar que eu estava em trabalho de parto e que a cada vez que eu me levantava da cadeira estava sentindo contração....isso rendeu muitas risadas). A dúvida veio quanto ao médico que assumiria o plantão das 7h, se teria a mesma receptividade e a preocupação ficou grande quanto a reação da médica que se preparava para uma cesárea. Houve a troca de turno e tive o privilégio de conhecer a Dra Luciene, também totalmente favorável ao parto normal. Até o meio dia, tive pouca evolução na dilatação, e acredito que por conta da tensão e stress que passei com a médica que, sem nenhuma simpatia ou sensibilidade, insistiu que deveria fazer uma cesárea com o único argumento de que o TP estava demorando muito. Não sei como, mas com toda a calma e firmeza do mundo, disse à médica que eu não tinha pressa e que se ela tinha, eu ficaria com a equipe do plantão. Depois de contar uma piada infame, ter uma postura arrogante e o jeito indelicado, a médica foi dispensada por mim e pelo meu marido e saiu daquele hospital indignada. Ai sim ficamos a vontade com a ótima equipe que prestou um serviço exemplar. Desde o começo da manhã foi motivador receber incentivo e apoio de enfermeiras, auxiliares e dos próprios médicos plantonistas da Casa de Saúde de Santos para que eu fosse firme e persistente no objetivo de ter um parto normal. No período da tarde teve início a fase mais forte do processo, em que as contrações se intensificaram, principalmente após a bolsa ser estourada pelos médicos. O que dá força para aguentar é saber que aquela dor intensa é como uma onda e basta ser forte por alguns segundos para que ela passe. A respiração é uma grande aliada nessa resistência e uma mão querida para apertar (no meu caso duas, da Dri e do Paulinho, que depois vi nas fotos que parecia fazer força comigo) o melhor apoio. Aos 9cm,achei que não ia aguentar e pedi anestesia, mas Dra Luciene foi categórica e não deixou, já que eu tinha aguentado até ali. A partir de então, foi fazer a força do expulsivo, que confesso, por mais que tivesse treinado, não saia como deveria. A motivação vinha de toda uma sala de parto dizendo que a cabecinha do meu bebe estava vindo, que estavam vendo seus cabelinhos.... A energia veio do fundo e só o instinto de mãe pode explicar... Às 16h31min, ouvir aquele chorinho de criança, todos vibrando e de repente, o maior amor da vida em meus braços , fez qualquer dor ser esquecida e justificada.
Apesar de não ter feito um plano de parto, fui atendida em tudo o que poderia desejar: sem anestesia, meu bebe mamando no meu seio nos primeiros minutos de vida, todo o tempo que ficou comigo antes do atendimento da enfermagem (até minha mãe o segurou no colo), meu marido ao meu lado o tempo todo. Só não foi possível evitar a episio, mas com certeza não por culpa médica.
Foram cerca de 7 pontos, que incomodaram um pouco na recuperação, porém nada significativo.
Alguns momentos ficaram bem marcantes, como o clima alegre e descontraído da equipe (a médica até atendeu ao celular nos momentos finais); a medalhinha de Nossa Senhora do Bom Parto que minha madrinha Nanci teve o carinho de me levar e que foi o amuleto que me deu força o tempo todo; os momentos em que as contrações ainda eram leves e eu fazia exercícios na bola e o Paulinho dormia ou assistia filme do Ipad na cadeira de acompanhante;
Durante o trabalho de parto, Paulinho dormindo e Tamara atendendo telefonemas da médica
que estava em outro local. Uma pausa para a sopinha, durante o trabalho de parto! rumo ao parto normal!Esses fatos ajudaram a tornar esse dia ainda mais inesquecível, porém é revoltante pensar que foram acompanhados de muito nervosismo e aborrecimento na luta para se conseguir realizar o desejo de ter um parto normal, que ao contrário do que o nome sugere, é visto com estranheza e resistência pela maioria das pessoas e, pior, pelos médicos do nosso país. Como sempre diz Adriana Vieira, somente nós, mulheres, gestantes e mães, podemos mudar essa realidade, fazendo com que nossa vontade, pautada de muita informação e suporte, seja respeitada e atendida.
Tamara e Arthur, com Adriana Vieira
Tamara Torquato, administradora na Petrobras, casada com Paulinho e mãe do Arthur, nascido de parto normal hospitalar em 10-10-12
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