Abrir uma nova conexão, expandir meus horizontes, criar novas maneira de ver o mundo. Sei que devo, mas como?
Resolvo rever meu armário. Coisas guardadas por muito tempo, sem uso: jogar fora. Melhor, posso doar. Um bom começo. Cansativo, porém recompensador. Ao final, tudo estará limpo e organizado. Balanço: quatro sacos plásticos de 100 litros de coisas que não me farão falta: sapatos dos anos 70; roupas ainda boas mas fora de moda; um casaco de pele, que há vinte anos espera ser usado, coitado! Separo-me definitivamente do que não me interessa mais.
Na cozinha faço o mesmo. Separo peças em duplicata; louças e copos lascados vão para o lixo reciclável; pratos das crianças, agora adultos, terão novos donos. Enfim, revisão geral e faxina. Até que não foi tão difícil! Muitas vezes temos medo de encarar as tarefas porque elas são piores enquanto a imaginamos. Já me sinto mais leve, arejada e com vontade de novidade. Vou para a sala, dou uma olhada e de repente enxergo enfeites antigos que mais parecem peças de museu. Sabe aquela peça que foi presente de casamento e que sem utilidade jaz em cima do piano? Nem bonita ela é! Está ali por descuido, descaso ou comodismo, sei lá... Sustentando a peça ele, o piano, num lugar nobre, mas sem uso, desprezado. Sei que é bonito, até elegante! Seria lindo se fosse tocado. Melhor quem tem um violão, um pamdeiro ou um chocalho, pra alegrar a vida. Um piano sem uso é como um bolo sem açúcar. Penso no assunto... foi de minha filha quando menina, talvez um dia ela o queira de volta... ela volte a tocar... Por enquanto é peso morto. Ai, que dor nas costas!
No dia seguinte toco pra uma instituição que há muito desejava ajudar e sempre adiava. Descarrego o carro, conheço pessoas e me comovo ao ouvir suas histórias de vida, tanto as que dali dependem, quanto as que ali trabalham; mulheres e homens que doam parte de seu tempo com prazer e dedicação.
Sinto-me bem, volto com uma sensação diferente, quase um alívio como o que sentimos quando nos livramos de sapatos apertados ou um par de óculos em cima do nariz... Óculos? Onde estão? Apalpo a testa, reviro os bolsos e... ah! me lembro... deixei-os em cima da bancada do banheiro hoje de manhã e nem senti falta deles até agora?!
Devo me livrar do piano...
(por Alice Vieira de Moraes)
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