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A NOVA ESTAÇÃO

- A NOVA ESTAÇÃO

 Naquele dia de setembro ela despertou diferente. Sentia-se leve, morna, feliz... modificada. Os olhos brilhantes, num rosto fagueiro, captaram algo a mais em seu corpo.

              Naquele dia suas entranhas palpitavam num ritmo acelerado, porém, controlado, como se a transformação seguisse uma ordenação superior. Num instinto, começou por acariciar seu rosto, depois pescoço e seios que, agora túrgidos, ansiavam por bocas ávidas, pedintes de alimento. Num movimento descendente, com desvelo, alcançou o seu ventre de contornos arredondados e auscultou-o com as mãos, paradas, em forma de cruz.

             Naquele setembro sentia-se especialmente fêmea; uma deusa fértil bafejada pelo dom do resnascimento. Esplendorosa, como a "Primavera" de Botticélli, viu-se coroada de flores de todas as cores. De seu corpo, envolto em diáfanos véus, desprendeu-se um leve perfume adocicado que abrangeu tudo a seu redor.

             Naquela primavera sentia-se pronta como a Mãe Terra, preparada e adubada para a fertilização. Receber a semente, germinar e esperar... o fruto divino de seu próprio ventre.

(por Alice Vieira de Moraes)
Alice Vieira de Moraes



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